segunda-feira, 17 de junho de 2013

Mudança de direção

Gosto de sair sem rumo. Quando morei na Austrália, por vezes sentia o mundo me oprimindo - uma urgência em tirar algo de mim. Para tanto, ia até Bondi Beach. A formação das rochas desenha pequenas cavernas, entradas, verdadeiros refúgios à beira mar. Não vou dizer que ficava sentado por horas, mas contemplava meu pensamento, embora meus olhos estivessem cheios com a maravilhosa visão da água.

Ainda saio sem rumo. Caminho para um lado, caminho para outro. Quem tá de fora acha que eu tô perdido, vagando, ou que, de fato, sou apenas mais um maluco. Tiro meu celular do bolso, me gravo mais uma mensagem. Penso em cada palavra. E é interessante mudar de estilo. Sempre julguei necessário carregar papel e caneta, mas tenho achado mais fácil invadir o sistema - sem censura - ao me ouvir.

Para a transposição narrativa, como inserir os hiatos de silêncio que permeiam a audição? Se vem em partes, vai em partes. Quase fui atropelado. Bem quando eu me perguntava se a vida não é exatamente o pedaço, o hiato, o silêncio, a ausência, o tráfego, uma pessoa sozinha na parada de ônibus acompanhada de suas angústias, medos, vontades...

O prato principal da noite de hoje: a lua no velho formato do sorriso do gato da Alice. Enigmática, profunda. E eu gosto de refazer e desfazer a intensidade, assim, num piscar de olhos. Deixar vir o estado da tristeza, mas extremamente capaz de alterá-lo. Quando a história é compartilhada, e alguém encontra nela uma vírgula, ou o eco pelo fato de não gostar ou concordar, talvez aí esteja a prova irrefutável da nossa interligação.

Hoje eu saí sem rumo, até com uma segunda intenção, mas acabo no supermercado.

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