quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Shake it out

A gente perde a fome. "A gente" quem? Eu, você. A gente sente o sangue subir, espalhando-se quente pelo pescoço e face. A gente sente o toque da frustração pulsar enquanto busca dissociação constante. Por sugestão da autora Natalie Trutmann ao final de um dos capítulos de seu (instigante) livro "Manual para sonhadores", assisti a palestra "Seu gênio criativo elusivo", da escritora Elizabeth Gilbert (Comprometida, Comer, Rezar, Amar). Se escrever é algo supostamente natural para mim desde muito tempo, por que as pausas dramáticas?

Gilbert busca separar a criatividade do artista, de forma que a sua obra não gere tanta angústia. Para isso, estrutura o relato a partir da atribuição da criatividade a um espírito divino, daemons para os gregos, gênio para os romanos. A ideia, basicamente, é a seguinte: se algo produzido por você é brilhante, o crédito não é só seu, é compartilhado com o gênio, aniquilando o narcisismo. Por outro lado, ao encarar um resultado negativo, a culpa deixa de existir. Sim, o gênio entra nessa também!

Os lampejos de Deus só ocorrem quando da união entre as forças - humana e divina - em prol da arte. Quanto a mim? Não posso culpar uma suposta falta de presença do meu espírito divino da criatividade. Eu preciso começar a dar as caras para a magia acontecer (ou não).

Here we go again.


quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Construção civil

Impedimento

E haveria um tijolinho
Pequeno e quebrado
Já dominado pelo diminutivo
Que seria retirado
Do muro do meu reino

De forma que o treino
Extenso e aplicado
Já absolvido e expansivo
Seria demolido
Da área do meu castelinho

Eu seria observado
Repetidas vezes
Porque os olhos
Buscariam por mim
Novamente
Num vai e vem
De atos e ensaios

domingo, 20 de outubro de 2013

O menino que enviava bilhetes

Com um exemplar do livro "Cidades de Papel" nas mãos, decidiu não tomar mais atitude. Uma amiga havia dito recentemente: "Você tem que receber bilhetes, não enviar". Até concordava. Havia uma força motriz, no entanto, impelindo-o a assumir as rédeas como num ato contínuo (ou falho). Carência. Depois, nem sabia, era um líder nato, ainda que essa natureza servisse para puxar o próprio tapete o tempo inteiro. Decidiu não mandar mais nada. Deixaria tudo nas mãos do destino ("deixo de ser 'gente que faz'?", ponderou). Isso tudo até avistar, na diagonal, mais alguém para receber seu nome e número de telefone, além de dois pontos e fecha parênteses para a devida chave de ouro.



quinta-feira, 17 de outubro de 2013

17 anos e fugiu de casa

Nicho de mercado

Não fui convidado para jogar este jogo
Ninguém foi…
Embora, até ontem, fosse acaso do destino
Hoje ficou iluminado pela luz no tabuleiro
Na semana passada substituí o R por outro R
Enfeitei seu jardim
Entrei na sua casa
E dormi na sua cama
Ao tentar pavimentar tais labirintos
Retirando das minhas entranhas
Tudo que pudesse entreter
Fui e voltei no tempo
Sempre programado para não falar mais
E eu ouvia…
Eloquente e espirituoso
O que me agradava ouvir
Na marcação dos “x” as datas nas quais eu veria
Num conjunto multifacetado onde você perguntava
“Quando vou te beijar de novo?”
Como se eu fosse um ídolo…

Eu não sou seu amigo

Vocês se acertaram. Que bom! Para falar a verdade, não sei onde anda minha cabeça. Mentira. Quis falar difícil, esmigalhar as palavras. Pena, elas voaram, subiram nas minhas asas e pegaram fogo quando nos aproximamos do céu. Lembro quando a gente comeu bergamota e ficou lagarteando sob a luz do sol, supondo inocentemente que tudo era doce como a fruta. Mordi um gomo podre, outro seco. Tinha certa desconfiança a contar da casca, levemente machucada, como se tivesse sido deliberadamente jogada no chão. Lembro quando passou a mão pelo meu rosto. Sutil. E eu explodi em fogos de artifício arteriais naquele momento, ciente da plenitude do estopim.


quinta-feira, 26 de setembro de 2013

A cura

Às vezes, tenho uma ideia enquanto estou comendo, como foi o caso hoje. Ela rapidamente busca dar as mãos para algo anterior, uma faísca, uma vontade ainda não concebida. Sempre considerei que, para escrever, mantendo a polaridade entre privacidade e segredo à vista, é preciso expor a alma, nem que seja uma única Horcrux/âncora/crença, num casamento entre mundo mágico e a magia da PNL.

A despeito do inferno astral logo ali na esquina, ouso prever de forma auspiciosa. Atrevo-me a afirmar que há pedaços de pão polpudos marcando a volta. E muito amor. Ainda que dentro de casa a aplicação de qualquer equação seja complicada, a tentativa permanece. "Eu não sou importante", pensei. Aí ouvi muitas risadas, feedbacks incrivelmente positivos e mudei de ideia (depois de respirar bastante). Na onda do discurso do presidente Mujica, concluí: o amor é sempre a melhor resposta. O primeiro lugar no pódio. A maior aventura. A melhor rima. A cura.



Você não precisa fazer sempre o melhor, mas deve buscá-lo. Não precisa redigir o melhor texto, pois o preciosismo, embora importante para o entalhe, não favorece a criatividade. Se você entra na dança esperando uma epifania, às vezes pode ser só uma brisa e representar muito mais, porque é na simplicidade que a vida caminha. Tão simples quanto ser hipnotizado pelo cambalear bruxuleante de uma vela.

Não importa o trajeto, a ponte aérea, a vontade que surgiu de ficar. O importante é ir em frente de forma flexível, pois as possibilidades só desabrocham quando regada a flor da mudança. Deixe-se enfeitiçar pelos próprios desejos, dê a mão para os que te cercam e pise com firmeza. Pode ser um novo emprego, um novo amor, um novo (re)curso. Balela? Auto-ajuda? O nome pode ser o que você quiser. Eu tô chamando de gostosura.

Vou ficar

Família ê, família Alpha

Sou acometido por uma força estranha quando o dia de retornar ao RJ se aproxima. Como escritor, ou simplesmente alguém que escreve, caso soe muito pretensioso o título, a ideia é convidá-lo a se juntar a mim numa retrospectiva. Não, a prerrogativa não é a de informar, mas sim gerar um espelho (na humilde expectativa de interação e que sirva de algum auxílio/consolo/reflexão). Por isso, peço que hoje você finja (ou não) que eu sou seu colunista favorito (oremos): Martha Medeiros, Lya Luft, Diogo Mainardi, Max Gehringer, Márcia Tiburi, enfim.

Há um efeito sanfona em cada visita ao Sul. Desta vez, a expansão do membro cardíaco foi maior, até pela quantidade de quilômetros percorridos, cidades visitadas e tempo da estadia. Volto com caspa (água quente para espantar o frio); alguns livros; uma tatuagem nova; roupas novas; mais um afilhado para mimar e amar, além do já por mim amado e mimado; muitos sobrinhos (na verdade primos, but who cares?); um machucado no pé esquerdo (tenho pânico quando sinto coceira nos pés, já que tirar o couro é a alternativa que resta para cessar a agonia). Foi uma viagem para a família (ainda que eu tivesse planos maléficos de ter uma trip-com-romance-cor-de-rosa). Inclua aí os amigos, aqueles que a gente escolhe, de acordo com o clichê, para fazer parte da nossa vida, mesmo que o laço não seja de sangue. Primos, primas. Tios, tias. Amigos, amigas. Comadre. Compadre. Irmã. Pai e mãe.

Ah, se todos soubessem o tamanho da minha gratidão e da saudade-vontade-de-levá-los-comigo. Sempre ao meu lado, na torcida, não importa para qual fim, pois sabem que eu não desisto. Verdade seja dita: é impossível rever todo mundo. Fica uma dívida, uma conta no bar para acertar na próxima, a antecipação do reencontro, a cobrança tolerável. Na hipótese da concretização do encontro, é preciso focar na qualidade, porque quantidade realmente é outro departamento difícil de encaixar no ISO da amizade.

Eu volto cheio de gás, pronto para dar o meu melhor. Eu volto turbinado com lembranças doces a elevar minha glicose. Eu volto querendo ficar, sim, pois meu coração está com vocês, mas ciente de que a vida é assim, que aqui é a minha zona de conforto (e nela não cabe mais permanecer). Mas posso adiar o retorno: Rio, te vejo dia só dia 10.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Mr. & Mr.

Espiral de amor

Vendou os olhos do namorado com uma faixa preta de algodão. Beijou-lhe os lábios levemente, um selinho para estampar aquele fragmento de tempo. Sem enxergar, o outro sorria, intrigado com o gesto inesperado, ainda que conhecesse a vertente passional do ser que amava com tamanho furor. Percebeu que, em breve, completariam três anos juntos, o que atenuou o fator surpresa sem diminuir a alegria do gesto. Para ambos, não havia nada melhor do que o simples fato de compartilharem a vida como um todo, uma profusão de amor que os instigava profundamente.


Divagando entre lembranças e a formação de mais uma, sentiu as mãos do amado repousarem sobre suas coxas. Havia algo em sua mão direita. "Uma caixa", pensou. Pequena. Quadrada. Óbvia, porém extasiante. Sentiu o coração bombear o sangue com mais intensidade para acompanhar o ritmo ascendente que retumbava ao redor de ambos. Ouviu um som metálico próximo, uma garrafa em pleno amasso com um balde de gelo, assim como o tilintar das taças de cristal. Um clique leve denunciou a abertura do avesso da caixa de Pandora. Sua mão estava no ar, não precisava dizer sim, sua linguagem corporal o denunciava como um flagrante policial.

Com os olhos desvendados, retribuiu todo o carinho colocando a aliança na mão do noivo e tirando-o para dançar, ainda que o único som fosse o tambor dos corações e o arfar da respiração apaixonada daqueles seres entrelaçados por um novo paradigma dos tempos modernos.

S2


Texto inspirado no mais novo projeto das amigas Laura Fraga e Fernanda Prestes, o Mr. & Mr.. Confere a iniciativa no Facebook e no site da dupla!

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Hipnose ou O brilho da agulha

Voos (retirada desnecessária do acento circunflexo – tchau, reforma ortográfica!)

Exatamente meia-noite e vinte quando ele olhou no relógio. Deveria estar dormindo, mas preferiu apanhar o objeto em cima da mesa do computador e verificar qual a probabilidade de cansaço para o dia seguinte. Era tarde, precisava trabalhar na manhã daquele dia que se iniciara há poucos minutos.

Comparado com o tempo do mundo, aqueles poucos minutos representados no celular em cima da mesa do computador estavam passando lado a lado com uma analogia. Aquela do hospital, na qual – ele lembra bem – pegava uma agulha e injetava em si mesmo tudo que julgava ter aprendido da última vez em que estivera naquela situação (ao contrário).


Esse espasmo repetido causado pela agulha que ele injetou em si mesmo poderia ser resolvido com uma cura supostamente simples. Algo antigo: magia resultante da união entre água, fogo e vento. E ele podia sentir aquela cura tão desejada bem próxima. O toque leve, mas arrebatador; os pêlos da nuca levantados em segundos; o velho e amado frio na barriga. Um beijo para imergir, queimar e voar – nada mais.

Ao tomar consciência de que o relógio em cima do computador parecia estar descompassado, que a agulha estava quebrada e que beijava o travesseiro, sentou-se na cama. Memórias brotando em cada poro e o segredo para tal sensação continuava intacto.

Ainda não era a hora…

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Vidas cruzadas

Navalha na carne
A Tpm de agosto desnuda e dilacera o discurso vazio das revistas femininas, e abre um leque de reflexões para outros públicos envolvidos no mesmo jogo de histórias da Carochinha

Muitos de vocês já devem ter visto a atriz Alice Braga na capa da edição de agosto da revista Tpm. As mais desatualizadas possivelmente estranharam a abordagem das chamadas e glamourização da foto e, portanto, podem ter perdido o tesão pela compra. No entanto, é apenas uma dobradinha para um problema maior: os conflitos enfrentados pelas mulheres no que concerne a estética, devido principalmente às imposições maciças da mídia com o uso desenfreado de alterações/retoques e, em alguns casos, verdadeiras mutações. A leitura da reportagem, naturalmente focada no segmento feminino, possibilita a observação de questões que se fazem presentes no mundo gay, embora seja plausível a extensão à cultura geral das publicações que nos rodeiam.


Enquanto as mulheres veem saltar aos olhos produtos perfeitos que as deixam perfeitas como a mulher perfeita que usa tais artifícios, o mundo gay constitui-se dessa pressuposta perfeição na esfera do criar clima. Para mascarar o preconceito, veste-se a roupa da academia, do carro importado, festas incessantes, numa carcaça que não parece envelhecer ou sofrer os danos do excesso. Não chegou um homossexual, chegou um carro, uma roupa, uma justificativa para não tocar no assunto. Essas questões, profundas e doloridas, já foram cutucadas anteriormente, e incrivelmente bem, pelo jornalista Fernando Barros, num artigo publicado no Observatório da Imprensa em 2011, intitulado "Que gay é esse". Trata exatamente desse personagem de revista que não existe - e não por acaso é fabricado no mesmo conglomerado da boneca que estampa os anúncios e capas de revistas preferidas das mulheres.

Com os exemplos instaurados por todos os lados, seja na revista ou no seu reflexo exterior, através dos leitores, não cabe o julgamento. Em nenhuma das abordagens é possível condenar quem se deixa levar por tais encantos (quem nunca?) e, ao não atingir o inatingível patamar oferecido, entra numa espiral de vergonha que leva à desconstrução do ser como um todo. Sem o julgamento, não resta dúvida de que é preciso, sim, sangrar as mazelas do corpo até o fim, fazer a autópsia e permitir que ele seja levado embora ou cremado. Não há nada de mortificante ou trágico, trata-se apenas de algo que simplesmente nunca existiu. E é melhor que seja assim.

domingo, 4 de agosto de 2013

P de 5

Faço o tipo sonhador. Algumas pessoas próximas dizem que, por tendência, preciso de alguém que, como se diz?, coloque meus pés no chão. Well, sou um escorpião com asas. Acredito em destino. E gosto de interferir. Para olhar para o céu, independente do hemisfério, sempre é preciso olhar para cima. Até onde posso ver no momento, existe uma mão completa de opções perante os meus olhos e sonhos. Algumas delas cabem em cálculos matemáticos – numa conta que não me recordo mais como fazer. Seria P de 5?

Mesmo com os devidos cruzamentos, a pergunta que se funde ao símbolo do infinito é simples na sua construção, mas extremamente complexa quando clama por resultado. Afinal de contas, não sou exato. O sonho ou o coração? Quando um sentimento diferente bate à porta (e não estou aqui falando sobre amor diretamente, talvez porque ainda não tenha feito a minha escolha), às vezes é preciso fugir? Abrir a porta apenas para batê-la na face do quase-amor? Ou é prudente convidar para entrar, servir um café, adoçar com carinho e convidar para participar do sonho? Quando foi que o sonho entrou? Ele já estava lá.

Num universo paralelo, na tentativa obviamente frustrada de fugir da realidade, certamente já fiz uma escolha, o que significa que, neste plano, ela ocorre ao contrário. Os planos podem ser equalizados? Unidos numa frequência para retomar a batida que pulsa, ao mesmo tempo, sonho e coração?

Vou pegar algo para beber*.

É assustador brincar com a nossa própria zona de conforto. A brincadeira, geralmente iniciada com uma sessão de esconde esconde, é necessária, eu sei, pois ativa sistemas de mudança até então intactos até mesmo pela brisa mais fraca de transformação. Agora que os ventos sopram repentinamente com o anúncio de 120 possibilidades, onde a areia assenta e forma um castelo?

O peixe?
O Rio?
Vem comigo?

*Chá gelado.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Gotas de pulsação

11/3/2011
Nas entrelinhas
02/08/2013

De tempos em tempos (apenas para gerar um mistério acerca do fator impreciso da passagem temporal e suas representações), uma força brota de mim, embora pareça sugerir que me domina de fora para dentro. Geralmente chega sem avisar, apenas arrebenta a porta e senta ao meu lado, como se nos conhecêssemos há anos. Admito que sim, somos conhecidos de longa data, sem dúvida.

O que me incomoda (instiga?) é que, em cada reencontro, a roupagem dessa força é diferente, evoluída e proporcionalmente mais tensa e, sim, intensa. Meu instinto natural é correr, não para fugir, mas para fazer parte dessa essência que emana e vibra em todas as direções sem se quebrar, dividir ou diluir.

É um desejo profundo por chuva somado ao correr na precipitação, cantar, dançar, pular, gritar, exorcizar, amar e verbalizar na água que corre verticalmente a expressão mais condizente com a enxurrada de emoções que se misturam; é olhar pela janela e desejar com tanto fervor que as esferas que se fazem necessárias ajustar, simplesmente acordem alinhadas...

Hoje isso ocorreu novamente e me trouxe para uma reflexão, lindamente vestida de sentimentos, mas que, na verdade, é apenas a moradia de um animal profundamente humano, rumo ao ápice da solidão.

"É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir"

Trecho de Tocando em frente (Almir Sater e Renato Teixeira)

quarta-feira, 31 de julho de 2013

A falha no plano

"I just don't know what to do with myself..."

Deixe no meio da rua
No meio da lista
No meio da régua
Sem medida

Deixe no meio
Fio
Feito
Falso
Passo

Rumo ao meio
Do nada
Dilema

terça-feira, 30 de julho de 2013

Serendipity

Do inferno astral 2012

Há momentos em que não sei para onde tudo vai. Pelo ralo? Contemplo mil pensamentos, não chego a conclusão alguma. Quero ler, ir até a piscina. Dançar, mudar de emprego, comprar roupas, utensílios domésticos e montar um quebra-cabeça. Lavar roupa, fazer comida, arrumar a casa (mesmo que ainda não seja a minha), andar de bicicleta, tomar um sorvete, beber até cair, namorar, passar café e enfeitar um pão francês quentinho com manteiga. O intuito não é fazer sentido, nem sequer ter ordem. Uma lógica. Cantar a plenos pulmões, tomar vitamina C, colágeno. Fazer um check-up, escrever um livro, ler mais, fazer um curso. Ganhar dinheiro, ficar em silêncio, alugar um apartamento (pode ser apertado), assistir seriados, ir ao cinema, descobrir um nicho e colher os frutos, expandir meu vocabulário, dar meu telefone, algo radical, algo proibido, de algum jeito, em qualquer lugar.

Acréscimos, continuação, devaneios pré-quase-aniversário etc.:

Quero...

...conseguir ler no ônibus, ser publicado, gravar um CD, fazer um show, andar completamente desligado do mundo externo, aliar faturamento ao labor prazeroso e instigante, pular corda. Conhecer alguém e não me afobar. Ter primeiro, segundo, terceiro encontro e tempo para pensar. Construir. Plantar, colher. Falar com pessoas distantes, virar para todos, inclusive para o espelho, perguntar "como vai você?" e realmente me interessar pela resposta. Cavar mais fundo, aprender francês, visitar Porto Alegre, conhecer locais recônditos e lugares turísticos. Planejar meu aniversário, comemorar, escrever no compasso do insight/pensamento, fazer novas tatuagens, registrar (mais) momentos, não ficar paralisado perante qualquer tipo de dualidade, pular de asa delta. Honrar meu(s) talento(s), adornar meus defeitos e não parar de almejar - até para garantir mais disso tudo.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

O quarto andar

Capítulo 2 - Eu caí do céu, você...

Encontraram-se na mesma noite. Rafael esperou Júnior perto da escada rolante da sorte, lá no andar correspondente ao trevo de quatro folhas. A tensão entre ambos, tão poderosa, formando espirais entre os olhares, inclusive os desviados para quebrar a sinergia estabelecida com tamanha brutalidade. Toda obra em uníssono com a mania junioresca de ter pressa. "Dane-se", pensou.

- A gente podia tomar uma ceva, que tal? - indagou Rafael.
- Eu topo. - disse Júnior.

Na noite carioca, o calor brotando das ruas, a carência exposta sob pouca roupa como argumento de independência, a pele levemente suada, mas não suor de ônibus lotado, mas sim aquele leve desprendimento de energia a fluir dos poros. A atmosfera é intoxicante. Os adjetivos espocam na cabeça de Júnior, tanto para qualificar a oportunidade como para idealizar aquele momento dividido com seu anjo.

- A melhor sudorese é a compartilhada. - comenta Júnior, afoito demais para conter seu entusiasmo.

Rafael sorri, satisfeito consigo mesmo, detentor de todos os prêmios de conquista, mas um anarquista quando o assunto é intimidade. Sorri porque não decodificou a mensagem, exceto no âmbito carnal. O sorriso é a máscara sedutora de alguém que não conhece companhia alheia para além de seus próprios desejos. Cresceu sozinho sob os olhos desatentos dos pais, atualmente separados. Da sua caixa de ferramentas, negação. É mais fácil estar ali bebericando cerveja e fisgando mais um. O resto vem depois.

Continua...

Não leu? Quer recapitular? O primeiro capítulo tá aqui!

sexta-feira, 26 de julho de 2013

A sucessora

Meu nome é Valdyrene. Com "y" mesmo, invenção da minha mãe, mas eu gosto, até que gosto. Ficou mais difícil aprender a escrever e soletrar, mas eu gosto, sim. Nasci preta, pobre, mas não espere pelo "puta" porque seria muita sacanagem. Na real é uma puta duma sacanagem, porque é a realidade. Até tive outra profissão, outra opção. Era cantora de karaokê nas comunidades aqui do Rio de Janeiro. Todo final de semana uma turnê pelos morros pra fazer a alegria do povo. O problema é que nunca me senti reconhecida. Neguinho não queria pagar, só sabiam de ficar pedindo entrada VIP. Palhaçada! Fora a inveja das Lucycreydes, Marinetes e Pauletes. Não me bastou uma adolescência sofrida, calçando 39, estudante bolsista, uma vara de tão magra, sem bunda, sem peito, sem nada? E, além de tudo, crente!

Aí resolvi mudar, fazer diferente, entende? Até canto pros clientes, eles gostam. É um lance sensual, saca? Agora tô mais ajeitadinha, peito cresceu, dou uma empinada com a bunda... ah, cansei de ser a Valdyrene cantora e decidi virar Valdyrene Surfistinha, só pra entrar na onda da colega que ficou famosa, quem sabe ser a próxima a escrever um livro ou até gravar um pornozão das Brasileirinhas. A gente tem em comum uma coisa muito básica, que é o lance do cara tirar a gente pra psicóloga. Pra esses eu canto, que assim largam do meu pé.

Beijos, vou atender!
Até a próxima.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Rumour has it

Prazer, eu sou o Jeferson!

Já me chamaram de tudo
Bicha, veado e derivados
Ou até boiola, Bambi, o pobre cervo – estranho

Serviu para cicatrizes, não nego

Marcas profundas de incertezas
No caminho das diferenças
O papel de bode expiatório

Também já chamaram de lindo, TOP

Gostoso, gigante, um pedaço de mau caminho
E algumas mães e avós por aí dizem: que desperdício!

Engraçado, hilário, inteligente

Bacana, Zé Mané, gente boa
Misterioso, escrachado, bonitinho

E eu me perco, oscilo, grito

Pernalonga, Angelina, exótico
Bocão Royal, príncipe
Ou mais um na multidão

(certamente incompleto)


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O texto abaixo é da Lena Gino. 

Me chame do que quiser

Se parece ingênuo que eu acredite nas pessoas, que me chamem de tola.
Se parece impossível que eu queira ir onde ninguém conseguiu chegar, que me chamem de pretensiosa.
Se parece precipitado que eu me apaixone no primeiro momento, que me chamem de inconsequente.

Se parece imprudente que eu me arrisque num desafio, que me chamem de imatura.
Se parece inaceitável que eu mude de opinião, que me chamem de incoerente.
Se parece ousado que eu queira o prazer todos os dias, que me chamem de abusada.

Se parece insano que eu continue sonhando, que me chamem de louca.
Só não me chamem de medrosa ou de injusta. porque eu vou à luta com muita garra e muita vontade de acertar.
E foi lutando que eu perdi o medo de ser ridícula. de ser enganada, de ser mal entendida.
Perdi, na verdade, o medo de ser feliz.

Não me incomoda se as pessoas me veem de forma equivocada.
O importante mesmo é como eu me vejo…
Sem cobrança. Sem culpa. Sem arrependimento.
A gente perde muito tempo tentando agradar aos outros. Tentando ser o que esperam de nós.
Eu sou o que sou e não peço desculpas por isso.

No meu caminho até aqui, posso não ter agradado a todo mundo, mas tomei muito cuidado para não pisar em ninguém.
Sendo assim, me chame do que quiser, eu não ligo…

Porque eu só atendo mesmo quando chamam pelo meu nome, que eu tenho o maior orgulho de carregar.

domingo, 21 de julho de 2013

Quem nunca?

Repetição de padrão negativo de comportamento

Diga:
“Não vou, não posso…”

Mas apareça do nada

Para que eu exclame:
“Que surpresa, nossa!”

(De um lado: “sim, preciso de ti” / De outro: “sim, mantém-se o controle”)

Eu peço:
“Por favor, fica”

Mas vais sem pestanejar

Para que eu perceba:
“Sem sermos os mesmos, ainda somos os mesmos”

(De um lado: “a história se repete, é sempre assim” / De outro: “se eu ficar, vai parecer que pode me controlar”)

Eu não me deixaria levar por ressentimento ou culpa porque a análise permanece a mesma: um padrão interno de comportamento manifestado no exterior tende a se chocar com o sentimento, também interno e manifestado no exterior. E eu imagino a confusão que tais manifestações – repetição e sentimento – causam sem parar.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Mais vale um na mão...

Dá um teco?

Ainda não eram um casal, mas saíram para tomar um sorvete juntos. Escolheram um MC qualquer de Copacabana. Leonardo resolveu dar um pulo no banheiro para tirar água do joelho e Luciano permaneceu na fila para aguardar pelo atendimento. Em transe de sabores, sem saber qual sobremesa pedir, Luciano foi despertado por uma briga que invadiu o restaurante. Dois moleques gritavam da rua para um terceiro, já resguardado pela equipe.

Com a balbúrdia pseudo-controlada, Leonardo de volta e decidido a ficar numa casquinha básica, enquanto Luciano apostava em cartas maiores, um Top Sundae de caramelo. Ao perceber a discrepância, Leonardo brincou:

- Poxa, eu com uma casquinha e você com um baita sundae. Sacanagem!
- Mas você pediu, eu...
- Tô brincando!

Saíram do restaurante. Quase uma quadra depois, um grupo com figuras duvidosas, cerca de nove "parcerias", surge. Um deles solicita "um pouco" do tal super mega blaster hiper ultra sundae de Luciano, que tenta fazer a Egípcia. O solicitante, ao emparelhar, simplesmente pega o sorvete de um frustrado Lu, enquanto um feliz Léo segue lambendo com prazer sexual a sua humilde casquinha de creme.

Amante de Afrodite

Depoimento Aquarela

Eu quero mandar você pastar. Quero que pense que é pra você que eu tô falando, não importa o quê. Quero gritar aos quatro ventos, seja pela inflação do meu ego ou puro desprendimento, que tô flertando mais que comida com geladeira. Que o povo olha nos meus olhos e desce direto pro meu umbigo e, sim, pra exatamente onde você tá pensando agora. É contigo que eu tô falando! Porra, eu quero te dizer que meus lábios 'tão mais vermelhos do que nunca, em chamas, veneno e mel. E que eu não tô nem aí. Meu cabelo tá mais claro, culpa do sol. Tô pra fora, sensual. Não dizem que tudo acaba sendo filtrado pela libido? Pois é.

Antes que você pense, já te corrijo. Não tô me achando nada. Tô longe de espelhos, refletindo no mundo. Tô na minha, tô esperto. Faço charme, viro o rosto, mas tô é muito atento. Ainda hoje, fingi que não vi uma piscadela. Não tô desfilando, mas é lance de passarela. Longe de Narciso, amante de Afrodite. Se for para ser cadela no cio, que seja conscientemente.

Sensualizo a pé, na bike. Cada trajeto é uma onda ascendente de aventura. E tô sempre cantando. Acho que afinado, não sei. Às vezes gritando, sem dúvida. Várias canções pra você. Podem até desmentir o que tô dizendo, não me importo. Sigo alimentando tudo isso, a fera que salta dos meus olhos assim que começo a me movimentar. Se ainda não te falei, meu corpo tá mais quente, o suficiente para me fazer suar. Quero te contar que perdi meu óculos de sol, mas que assim fica mais fácil para os transeuntes enxergarem a miscelânea desmedida de verde, mel e toda cor que surgir nesta nova aquarela.

Não sei se disse tudo, se me fiz entender, mas chega, vou jogar Candy Crush.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Havoc

Esfarrapada

Eu digo que sinto nada
Se sinto nada, estou vazio
Tenho sangue quente, mas fico frio

É borboleta sem vida no estômago
Sensação de peso, desânimo
O sangue ferve, estrondo...
O sangue ferve, estranho...

Sinto muito

Água na nuca, pescoço
Pulsos e rosto
Tenho sangue quente, mas fico frio

Olhando para trás
Na mesa ao lado
Está aquela que disse...
Está a ilusão que diz...

Sinto muito

Desculpa esfarrapada
E o sangue ferve
Diante do castelo que ruiu

sexta-feira, 12 de julho de 2013

O quarto andar

Capítulo 1 - É você que eu quero

Rafael é esforçado. A fim de pagar a faculdade, trabalha numa famosa loja de roupas de um tradicional shopping do Rio de Janeiro. Rapaz ousado, tem como hobby, pelo menos nos intervalos para o lanche, fisgar algum boy magia pelos corredores. Foi quando ele viu um moço distinto, lá no alto da escada rolante, a caminho (é o destino!), do seu andar. Não demorou a agir.

Pegou a colega pelo braço e tratou de pisar na escada rolante, de modo que seu alvo ficasse exatamente atrás deles. Ali, na escada da luxúria, descendo o andar e subindo a temperatura, deslizou seu braço direito para trás e tocou suavemente as coxas daquele ser enigmático enviado diretamente do quarto piso - o céu para alguns. "Oi?", pensou o tocado, mas nada fez, manteve a pose e o controle até alcançarem o primeiro piso.

Para Rafael, o jogo havia só começado. Queria mais. Para conseguir, decidiu tomar medidas extremas. No domingo, aproveitou o baixo movimento para invadir o quarto piso com estilo. Viu que seu pretendente estava ocupado e, ao ser abordado por outro vendedor, fingiu interesse em taças (de cristal, claro). Mas nem o brilho das peças era capaz de ofuscar o olhar penetrante do anjo mau do terceiro piso. Num ricochete, os olhares se cruzaram. "Que amor, meu alvo ruborizou", sentenciou a mente perversa de Rafa.

TRIM TRIM

- Loja de coisas frequentemente inúteis e sempre caras, Júnior, boa noite?
- Oi, eu fui atendido ontem por um rapaz assim, assim e assado.
- Olha, com essa descrição, só pode ser eu...
- Ah, então é você mesmo que eu quero!

Continua...

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Repica, Renê!

Quem é ela, quem é ela?

Ela não se veste de forma inadequada, mas tem um ar à la loja de departamentos que pode ser diagnosticado à distância. É simpática, um deleite cômico para atendentes em geral. Casada com o Roger, cabeleireiro conhecido lá no Largo do Machado, não olha para os lados. Ele, um mestre com a tesoura, é famoso pelas suas mãos Fermento Royal ou Adubo, já que o cabelo cortado tende a crescer em tempo recorde e extremamente sadio.

Formam um casal admirável: não há porta que Roger não abra para sua donzela, nas mãos sempre uma flor para sua dama. Sem filhos. Casa própria, carro popular, estabilidade, ainda que o perrengue apareça vez que outra. Por trás de tamanha harmonia, jaz adormecida uma garrafa de refrigerante dois litros de sabor Uva.

Mas ela não sabe. Roger tece com capricho sua teia em forma de armário, sendo capaz, inclusive, de galantear rapazes enquanto faz compras com a esposa numa das lojas preferidas dela. Disfarça, dá um sorriso crispado, olha de esguelha. E vai embora perguntando, lá no fundo, o que há de errado em se enganar.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Ligeiramente grávida?

Começou o dia às avessas. Ofereceu o assento do ônibus para uma suposta gestante. Obviamente, piada pronta, a mulher não estava grávida, mas ficou definitivamente fula da vida, disparando olhares 43 que deixaram muitos feridos no trajeto. Ao descer da condução, enfiou o pé direito numa poça d'água, fato observado com gosto pela falsa-futura-lactante, agora sentada na janela. Na esquina, quase é atropelada por um taxista apressado, na ânsia pelo último instante amarelo do semáforo.

Ao cruzar a rua, vê que um desafeto dos tempos de escola está se aproximando na direção contrária. E agora? Gira nos próprios calcanhares como numa dança maluca e se joga para dentro da farmácia da esquina. Fica ali arfando por alguns instantes e decide aproveitar o timing para se pesar. Como já bem entoou Julia Roberts em trecho de Uma linda mulher, "GRANDE ERRO". Cinco quilos a mais é para lascar a cara de pau da balança, o que cai em consonância com a mania de acrescentar molho madeira a tudo que prepara.

A missão impossível na farmácia, onde aproveitou o ensejo para comprar um chá diurético - "perca 1kg por semana" é a promessa da embalagem - e, com isso, ah, está atrasada. Pelo menos não é segunda-feira, é sexta e, calma, o dia já vai terminar. Ou pelo menos ela conta com isso.

Amém.

Uma catedral

Temporal

Ao chegar em casa, o portão foi aberto pelo guarda como forma de gentileza. Agradeceu, subiu as escadas, pegou a chave no bolso e tentou encaixá-la na fechadura. A chave estava torta. Desentortou o objeto e conseguiu entrar em casa.

Palpitava no ar, no tempo e no peito uma réstia de algo que é parecido, mas não é exatamente esperança. Pode-se dizer que é fruto de expectativas fundadas num mundo da fantasia, aquele onde os ideais são criados. Adentrou a porta à espreita de ouvir algo que denunciasse o que estava esperando, mas somente o som do Fantástico ecoava na TV. Caminhou lentamente até o quarto, reunindo dentro de si toda a tolerância à frustração possível e imaginável (no mundo ideal e real).

Não havia, de fato, um grande pacote do qual uma pessoa pode irromper com gritos de surpresa e euforia. Nada era tudo o que havia. Vazio. Templo de silêncio, quente do ambiente e frio de presença, embora seu rosto denunciasse um rubor, uma queimação que avermelhava seu peito, pescoço e rosto como num grande alagamento.

domingo, 7 de julho de 2013

Escorgitário

Para dizer que falei sobre o clima

Sou todo contradição
8 ou 80
Vulcão

Mas não gosto de muito frio
Muito calor
Aprecio meia-estação

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Conta mais

Quando eu tinha um Nokia 1220, achava que, quando da modernização dos tijolos para os atuais smartphones (a versão baby de um Samsung Galaxy já vale, não?), tudo estaria preenchido. Cada planilha com as lacunas devidamente organizadas, muito bem, obrigado. Pfff, hello!!! Eu tô é ralando meu rabo na areia deste Rio de Janeiro, tão doce, tão amargo, vaidoso e raramente essencialmente verdadeiro. Mas não tô reclamando, não.

Há poucos dias, uma amiga me disse que tinha dificuldades em se sentir batalhadora. Exclamei:
- Jura? Eu super me acho Xena, a Princesa Guerreira!
Ela riu. Acho que absorveu, internalizou. Que bom! Porque é bem isso. Ninguém aqui tá passando fome, mendigando, sofrendo torturas psicológicas ou físicas. Todo mundo amparado, graças a Deus. Isso, entretanto, não dilui a bravura pra tirar a bunda da cama, lavar o rosto e levá-lo pro MMA + UFC que a vida faz, sem piedade, diariamente.

Não tá fácil pra ninguém, mas a gente se diverte.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Sinais vitais

Ainda existe o brilho quando cruzamos o olhar? Aquela intensidade de magia que denunciava para o mundo exterior que nossos corações pulsavam na batida do amor? Há brilho nos teus olhos? Há brilho nos meus olhos?

Os lábios seguem dizendo com verdade algo que se perdeu? O mundo parou, a estação passou. O que permaneceu? Nesse amontoado de perguntas, há respostas? Todas as perguntas, somadas, resultam em algo óbvio, desafirmam qualquer delírio ou se fundem numa questão de ordem suprema?

Ao invés de diminuir, a boca do funil vai aumentando e, durante essa transfiguração, como ficam as extremidades, como se paga essa conta? Agora que estou no caixa, rebobino as cenas e não há indícios de presença. Vai muito além do ceder: repousa naquilo que não se vê e, supostamente, na alquimia que somos capazes de realizar numa combinação de azul e verde indescritível. Da mistura surge o ciano? Um oceano de possibilidades ou cada cor busca outra para mudar de tom? No monitor o risco vai ficando mais fino.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Moratória

Recuperar um momento ou algo não dito

Acabamos de falar por telefone
Queria tons equalizados que honrassem a decisão
No entanto, eu lágrima, tu razão, foi minha a barganha
E o pedido por mais uma noite de abraço e calor

Não aguento mais a repetição, a ferida
O masoquismo, o usar, o anseio, o molde
O receio, o medo e a mistura de emoções
Irregulares e imprecisas, por favor

Tenho que pensar na conjuntura
Na estrutura do texto, sem perder detalhes
O contexto, a expressão e a forma
Do que se desenha nas entrelinhas com horror

A responsabilidade é minha e eu a assumo
Mas sou obrigado a vestir uma capa
O capacete e os acessórios defensivos
E andar como se não fosse permitido sentir dor?

Penso nisso como uma música:
O ritmo e o timbre da voz que ecoa
Nos meus tímpanos aquilo que
Corre nas minhas veias e queima com fervor

E eu estou orgulhoso dessa rima simples feita com amor.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Aqui vai meu coração

Camboja, 1º de novembro de 1986.

Para você...

Escrevo-te para dizer o que não ficou claro. Escrevo-te para relembrar o passado. Um passado profundamente esquecido em nossas mentes, mas que, neste momento, vem à tona junto com sentimentos indescritíveis. Escrevo-te para dizer: estou com saudades.
Talvez esta singela carta não cumpra seu papel. Talvez eu nem queira que isso aconteça. Independente de minha força ou vontade, um flash nos posicionou em dimensões opostas e intransponíveis. Por que resolvi escrever? Para ser sincero, nem ao menos sei. São tantas reviravoltas que chega a ponto de ser irônico. Talvez você carregue as respostas que tanto almejo dentro do seu coração amargurado, acabado. São infinitas as dúvidas. São infinitos os medos. É infinita a esperança. Sentimentos tão desconexos entre si que acabam por se unir em um único. As barreiras levantadas diante de nós são destrutíveis, eu sei. Porém, nossas dimensões nunca se encontram. Por isso te escrevo... para tentar quebrá-las.

É realmente triste e emocionante lembrar da nossa amizade: entrelaçados como um feitiço do tempo, separados por obra do destino. A luz que iluminava teu caminho e fazia você compreender o mundo com mais facilidade e entusiasmo extinguiu-se. Agora, procuro-te na escuridão, tateando cada canto deste imenso quebra-cabeça. Palavras não valem nada. Não agora. Enquanto elas eram válidas, não foram usadas da maneira correta, foram jogadas ao vento como as folhas no outono. Mas a incógnita chamada destino nos envolveu neste enigma denominado morte, onde o céu não é mais púrpuro, mas sim, negro e profundo, onde as flores já não possuem cor, exceto as que enfeitam o teu jardim. Agora é tarde para consertar os erros do passado. Ele já está concluído. Quem dera tivéssemos o poder de esquecer cada acontecimento infeliz e desgastante.

Eu poderia até te ter aconselhado. Mas não o fiz. Por quê? Palavras, naquele momento, não poderiam expressar o que eu sentia. Agora, frente a frente estamos. Você não pode me ver, nem eu posso. Minha vida transformou-se radicalmente. Consumido pela inércia e cada vez mais devastado pela angústia.

Você tão perto... contudo tão longe. A distância, mesmo que mínima, é infinitamente dolorosa. Cada segundo é uma facada. Cada minuto é sangrento. Cada hora é uma dor inacabada. Suas lágrimas eram cósmicas: confortantes e ternas. Minhas lágrimas são incessantes, desesperadoras e frias. Falta-me inspiração para falar sobre o que eu sentia e sobre o que hoje sinto. Talvez eu nada sentisse e acabei por me acostumar com essa rotina. Dói escrever sobre isso. Lembranças e sensações fazem com que eu me sinta imergindo num mar de sangue, dor e sofrimento. Profundamente ferido... eternamente marcado.

O ontem me fugiu às mãos. O amanhã nem ao menos chegou. Não posso retornar ao passado e consertar nossos erros. E, muito menos, tentar planejar o futuro. Não foi permitida a mim esta tarefa. O tempo pode ser a resposta pela qual tanto almejamos. O que é o tempo? Os anos que passamos juntos, alegres. Os momentos de grande felicidade. Mas o tempo é também os momentos de profunda depressão e dor. Ele é a chave para emparelharmos as nossas dimensões. Em nossa vida interior pode estar a resposta para todas as perguntas que inquietam o nosso coração. O silêncio é benéfico. Seu silêncio era angustiante.

É amedrontador pensar no que pode estar no meu caminho. Confuso... preciso de você... Você era o remédio para a minha depressão. E agora, quem irá me ajudar? Sinto como se gritasse em uma sala cheia e ninguém ouvisse o desespero da minha voz... a agonia do meu sofrimento. Não tenho sequer a vaga esperança de ser ouvido.

As mágoas corroem a alma e desalentam o entusiasmo. Sei que seu estado emocional era facilmente abalado. Você cansava de renovar constantemente seu estoque de alegria. Pouco a pouco, ficava cada vez mais caída. Entregue às conseqüências de não querer mais viver. Uma relação tão abstrata, porém, ao mesmo tempo, concreta. Uma ligação forte rompida por um desatino, um erro. Um grande erro. Infelizmente eu irei cometê-lo também. Minha razão leva-me a fazer isso.

As luzes se apagaram. As portas se cerraram. O tiro quebrou o silêncio, tornando-o mórbido. Aquele salão de proporções gigantescas. A arma na sua mão... aquele som único... um segundo de revelação... o sangue jorrando incessante de seu coração.

Esta faca que agora empunho contra meu peito, lançar-me-á à sua dimensão e dará as repostas que tanto anseio. Quebraremos o feitiço que a nós foi imposto. A liberdade nos pertencerá novamente.

Seus cabelos não são mais lisos e morenos. Seus lábios não são mais vermelhos e vivos. Seus olhos não são mais verdes e nem se abrem. Mas, em poucos segundos, você deixará de ser apenas uma lembrança para passar a ser minha realidade. Uma realidade que eu pensava não poder existir. Um tempo que viverá novamente. Uma foto revelada dentro de minha mente: intacta, indestrutível.

As palavras agora me faltam. Aliás, neste momento, elas nem valem nada. Ou será que valem? Deixo esta carta sobre teu túmulo para que a chuva que cai renitente leve estas palavras e sentimentos até você. Estas rosas, vermelhas, sangrentas e despedaçadas são o símbolo do nosso momento.

Descanse em paz.

Vejo-te em breve...

Jeferson.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

We found love (ou algo assim)

Com acompanhante

Era noite.
Ele não havia bebido.
Fumara 2 ou 3 cigarros (mentolados) à beira mar.
Enquanto as ondas iam e viam, como sempre fazem, ele se perdeu. O sentimento era o de tentar segurar areia, sempre escapando por entre os dedos. Se a meada encontrava o fio, logo a distância assumia a relação, e o fio da meada, sem intenção de rimar, a ação.
Ah, o melhor é caminhar de volta ao apartamento. Cantarolar uma música pelo caminho. Pés descalços, pouco importa o atrito com o chão.
Um susto. Mudança de planos. É festa!
Troca de roupa: vermelho vivo.
O trajeto, feito de carro, é tenso. Sim, ele prefere sondar as situações antes de se entregar (nem sempre), então é prudente manter-se fechado, calado, apenas entoando um ou outro verso da canção no rádio.
Casa noturna. Boate. Danceteria. Whatever.
Um desconforto, aquele nascido da análise, e um grande escudo – convenientemente prestes a ser estraçalhado.Banheiro. Fila do caixa. Bar. Uma garrafa de água e um acompanhante (inteiro). É cabeça que ferve, talvez lutando contra a razão do ser.
- É um dos sintomas – dizem.
Meia hora, ar livre, terraço. E um retorno com estilo para a pista. Nada mais importa. Tudo é leve. É um gosto de quero mais que se renova a cada fração de segundo. A pele se manifesta de fato como o maior órgão do corpo, numa elevação sensorial que beira a queda livre. Cada passo é camuflado na trilha do orgasmo constante. É a perfeita mediação de conflitos que se manifesta de forma corpórea. A luz, o ritmo, a cadência. Beijo, abraço, conexão. E uma noite no paraíso.

- Promete que a noite não vai terminar?

domingo, 23 de junho de 2013

Dois coelhos

Enquanto assimilo, a única saída que me resta é fingir. Fingir que não quero te ver. Fingir que não esperei um convite ou que pensei em convidar. Fingir que não almejei uma brecha. Ainda dá tempo! Eu vou dizer que nem pensei a respeito, que não me senti ferido, atacado ou abandonado, exceto por mim mesmo. Vou instruir minha mente a enxergar como algo normal, porque é normal; eu que sou um louco exagerado. Vou aceitar, de verdade, que minha versão é a errada. Pelos sintomas, devo estar certo nesse ponto. Vou chorar o que tenho para chorar, sem drama, sem me boicotar, simplesmente para botar para fora, até de forma displicente, como se não me importasse, como se estivesse chorando de alegria pela redefinição que vai nascer, não pela presente-quase-antiga forma de ver. Não vou me punir por cometer velhos erros. Não vou brigar, obrigar, impor, implorar, afinal, estou errado e não vai funcionar. Será uma limpeza como tem que ser, de dentro para fora, honesta, tentando aceitar que o gênio não está sempre trabalhando pelos meus desejos.

A mudança não surge do dia para noite, não chega de surpresa na madrugada, por isso a carga ambivalente de cada palavra: uma simples questão de querer ser diferente, até por fatores de somatização, mas ainda não ter atingido tal patamar. É o clamor pela reconfiguração da imagem que se desenha na mente e a releitura que o coração faz e que determina as ações subsequentes. Vou arquitetar uma nova visão de amor, renovar minhas esperanças, algo que tenha como moldura amor próprio e mecanismo de preservação. Inspirar vontade e exalar leveza. Entrega total? Certamente, mas não totalmente. Faz sentido? O mesmo Jeferson intenso, mas com mais senso, talvez. Vou transformar minha carência em algo-que-ainda-não-sei-o-que-é.  É preciso desnivelar para alcançar outros níveis, entender onde dói e os motivos da dor, para depois unir os andares.


É assim que se mata dois coelhos com uma cajadada?

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Upside Down

Criança livre

Liguei e contei uma história
Ouvi que tenho muita energia
Se desse para vender, ela disse
Tu estarias milionário

Há uma criança que dança dentro de mim
No alto da gangorra
Corre, cabra-cega, bolita
De cabeça para baixo na praça

O adulto é um aprendiz
E mestre na teia de convenções
Que permeia a troca de ambientes
No cruzamento de extremos

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Braile

Ultimamente, o que mais quero é separar as sílabas do teu ritmo. A todo momento. Sem motivo, mas com todos os argumentos do mundo. Nunca supondo que pareço são, longe disso, mas completamente louco, voraz, alucinado e exagerado. Há diversas formas de perceber a minha adonação/adoração: é um querer intenso e semiótico que, quando satisfeito, logo se refaz, desfazendo a satisfação. Um ciclo. São pontos finais dramáticos, vírgulas instigantes, reticências de prazer e pontes de travessões. Pausas. Algo assim, ambíguo, com e sem rima na formação dos períodos. As palavras soltas são os sussurros, a trema aos ouvidos numa hifenização direta com os lábios. As mãos acentuam as curvas, as retas, e tonificam cada sílaba separada para atender à retórica sensorial que transitiva diretamente nossa ligação (a saída do hífen,  fator que gera a aglutinação).

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Is this thing on?

O meu rosto queimou. Um calor espraiado a partir da extremidade da minha orelha esquerda até encontrar onda semelhante vinda diretamente do lado oposto. E eu exclamei: meu telefone vai tocar. Da sintonia fina, uma grande interrogação formada por milhares de versões menores dela mesma, intrínseca ao enigma, ou talvez óbvia demais para a credulidade imediata. É na distância que eu encontro o eco real e estimulante do meu próprio clamar? Na proximidade somos dois polos de igual carga que se repelem? Eu vou escrever esperando a sua leitura para assinar embaixo da construção de algo que não se sabe bem o que é?

Dois corpos de leite entrelaçados perante o espelho, na plena observação do encaixe perfeito, por que não nos devoramos (numa estrada de mão dupla) na totalidade? Será que deixando pela metade fica aberta a possibilidade do reencontro e reitera-se a vontade pelo fato de não haver sido completado o ciclo – sutilmente interrompido nas preliminares (ainda que na intensidade plena)? Faltou desejo, sobrou projeção? Sobrou desejo, faltou ação? Do gozo, a dúvida.

O meu hábito de acrescentar significado a tudo, seguido de perto pelos teus olhos atentos, sorriso de lado, permaneceu. E enquanto tu contemplas meu rosto, e retém o calor da minha pele nas entrelinhas, eu me (re)apaixono pelo fogo com que falas sobre assunto qualquer. Numa mutação, há amor sob a forma de açúcar, um bombom de sentido e, de novo, amor sob a forma mais usual de rosas. Sem espinhos, sem cabo, somente pétalas espalhadas, assim como as peças de um quebra-cabeça.

A minha cabeça, ora envergada por prazer, ora baixa pela dúvida, repassa cada momento. Ela tem ciência da noite singular, em quantidade e representatividade, claramente ligadas pelos seus inversos, e não oscila no que parece permanecer. Se na tentativa de acertar, mostrar ser diferente de quem era quando da primeira era de nós dois, qual a minha visão a respeito dessa desconstrução? Na sua auto-constatada falha em fazê-lo, de fato eu não vi quem devia ver, então, quem é você? O resultado é amor, ainda que banalizado de acordo com as regras de tempo, carência e sabotagem, somado à curiosidade. De um jeito ou de outro, a descoberta?

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Mudança de direção

Gosto de sair sem rumo. Quando morei na Austrália, por vezes sentia o mundo me oprimindo - uma urgência em tirar algo de mim. Para tanto, ia até Bondi Beach. A formação das rochas desenha pequenas cavernas, entradas, verdadeiros refúgios à beira mar. Não vou dizer que ficava sentado por horas, mas contemplava meu pensamento, embora meus olhos estivessem cheios com a maravilhosa visão da água.

Ainda saio sem rumo. Caminho para um lado, caminho para outro. Quem tá de fora acha que eu tô perdido, vagando, ou que, de fato, sou apenas mais um maluco. Tiro meu celular do bolso, me gravo mais uma mensagem. Penso em cada palavra. E é interessante mudar de estilo. Sempre julguei necessário carregar papel e caneta, mas tenho achado mais fácil invadir o sistema - sem censura - ao me ouvir.

Para a transposição narrativa, como inserir os hiatos de silêncio que permeiam a audição? Se vem em partes, vai em partes. Quase fui atropelado. Bem quando eu me perguntava se a vida não é exatamente o pedaço, o hiato, o silêncio, a ausência, o tráfego, uma pessoa sozinha na parada de ônibus acompanhada de suas angústias, medos, vontades...

O prato principal da noite de hoje: a lua no velho formato do sorriso do gato da Alice. Enigmática, profunda. E eu gosto de refazer e desfazer a intensidade, assim, num piscar de olhos. Deixar vir o estado da tristeza, mas extremamente capaz de alterá-lo. Quando a história é compartilhada, e alguém encontra nela uma vírgula, ou o eco pelo fato de não gostar ou concordar, talvez aí esteja a prova irrefutável da nossa interligação.

Hoje eu saí sem rumo, até com uma segunda intenção, mas acabo no supermercado.

domingo, 16 de junho de 2013

Mea Culpa

Incógnita ou O exato momento em que me perdi

Caminhei como se fosse desfalecer no passo seguinte. Lágrimas brotando e um par de pernas hesitantes. De repente, a sensação cardiacamente palpável de ter deixado algo para trás: escova de dente, carteira, meu coração? A tentativa de ler um livro no robô alado, a claustrofobia e a inversamente proporcional golfada emocional, geograficamente localizadas num limbo grávido de expectativas. Num átimo, o cheiro que ficou nas minhas mãos, na clara alusão a porto seguro, uma posse não possuída num enlace indefectível embaixo do lençol.

Eu tinha o costume de pegar papel e caneta quando um trem descarrilava dentro de mim. E não poupava esforços. Criava símbolos. Jogava pétalas de rosas na cama. Compartilhava meu tempo, dinheiro (às vezes pagando o adicional na simples e falha tentativa de garantir a noite seguinte, prometida com o cruzamento dos dedos mínimos, pelo fato de ter gerado uma dívida hipotética) e era expert na construção de expectativas (abstratas e concretas).

Não media esforços. Amava e dizia. E não tinha medo de uma possível retaliação sob a forma de dor póstuma. Eu acreditava. Agarrava e segurava com afinco um palmo de areia, ainda que escorresse entre os meus dedos. Mãos firmes, pernas bambas. Nadava até um bote, mesmo que nunca chegasse nele de fato. Eu era flexível perante a vida. E duro comigo mesmo. Mudava meus planos num segundo para adequar uma situação. Uma, duas, três vezes. Eu endureci. E amolecia.

Eu não sei por onde recomeçar neste casamento de estilos. Será que daríamos certo se eu estivesse aí? Quando vamos nos falar/ver novamente? Vamos nos falar/ver novamente? Com que frequência? O que diremos? Qual será a interpretação do silêncio? Vamos silenciar? Devemos silenciar em benefício mútuo? Qual o tipo de relação que se estabelece quando já se chegou no ápice das palavras? E outras tantas perguntas enigmaticamente aninhadas num aquário habitado por um escorpião.

sábado, 15 de junho de 2013

Silêncio no estúdio

A hora certinha

Ela sente falta do palco
Luzes brilhantes, pés descalços, olhar fixo no horizonte
Acender
Ascender

Brincar com as palavras
Mudar de universo
Colocar-se no mundo
Ovacionar a vida e transformar em âncora tal advento


sexta-feira, 14 de junho de 2013

Edge of evolution

Em tempos de revolução, onde o desejo por transformação vai para as ruas ao abandonar a latência do sofá, é possível vislumbrar o caos através de perspectivas inusitadas e alarmantes. Duas autoras contemporâneas, Suzanne Collins e J.K. Rowling, sabem muito bem como transmutar essa (re)visão em literatura para variadas faixas etárias ao analisarem, com profundidade, o panorama político de forma globalizada.

Com os protestos espalhando-se como pólvora, espocam clarões de "chega", "basta" e derivados em locais reticentes: Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro - além da extensa proliferação (já que os meios insistem em mascarar - até tu, Jabor?) do boca a boca literal e nas redes sociais. A analogia é banal, eu confesso, mas de igual e intensa profundidade. É gritante a Hogwarts sitiada e os distritos em plena ebulição social, ainda que as tentativas em cessar o movimento, não como unidade partidária, mas o caminhar em direção a algo, sejam renitentes e abusivas.

Não temos varinhas ou artefatos de guerra reunidos na Cornucópia, mas certamente carregamos a cicatriz incorrigível da rebelião a dilacerar as algemas impostas de forma velada às nossas mãos.