sexta-feira, 26 de julho de 2013

A sucessora

Meu nome é Valdyrene. Com "y" mesmo, invenção da minha mãe, mas eu gosto, até que gosto. Ficou mais difícil aprender a escrever e soletrar, mas eu gosto, sim. Nasci preta, pobre, mas não espere pelo "puta" porque seria muita sacanagem. Na real é uma puta duma sacanagem, porque é a realidade. Até tive outra profissão, outra opção. Era cantora de karaokê nas comunidades aqui do Rio de Janeiro. Todo final de semana uma turnê pelos morros pra fazer a alegria do povo. O problema é que nunca me senti reconhecida. Neguinho não queria pagar, só sabiam de ficar pedindo entrada VIP. Palhaçada! Fora a inveja das Lucycreydes, Marinetes e Pauletes. Não me bastou uma adolescência sofrida, calçando 39, estudante bolsista, uma vara de tão magra, sem bunda, sem peito, sem nada? E, além de tudo, crente!

Aí resolvi mudar, fazer diferente, entende? Até canto pros clientes, eles gostam. É um lance sensual, saca? Agora tô mais ajeitadinha, peito cresceu, dou uma empinada com a bunda... ah, cansei de ser a Valdyrene cantora e decidi virar Valdyrene Surfistinha, só pra entrar na onda da colega que ficou famosa, quem sabe ser a próxima a escrever um livro ou até gravar um pornozão das Brasileirinhas. A gente tem em comum uma coisa muito básica, que é o lance do cara tirar a gente pra psicóloga. Pra esses eu canto, que assim largam do meu pé.

Beijos, vou atender!
Até a próxima.

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