domingo, 5 de janeiro de 2014

Tennis Court

A pequena Sereia ou Summertime Sadness

Até pouco tempo atrás, eu acreditava que, para mostrar o "seguir em frente" no contexto do preconceito, precisava camuflar, ocultar e até mesmo fingir uma saída sem arranhões, ileso das prerrogativas que me cercearam desde criança. Nada de passagem turbulenta e sofrida pela adolescência. Considerava a mera afirmação desse drama, um coro, a perda de qualquer chance de crescimento perante os fatos. Eu corro, pulo, salto, escorrego; me sinto como um herói e seus dilemas, sua humanidade, completamente dualístico e buscando ser inteiro.

No Ano Novo, mergulhei, literalmente, no clube Paraíso, local onde passei bons veraneios - e onde uma das ondas de apontamentos começou. Bixa pra cá, bixa pra lá. Diferente. Insuportável. Pra mim e pra eles, aparentemente. É engraçado retornar, agora adulto, não mais (tão) frágil, e perceber o mesmo olhar. Existe leitura mental e existem fatos. Um dos novos membros da gangue comentou com o amigo sobre o meu brinco na orelha esquerda. Na esquerda porque na direita seria coisa de gay, não? Poucos se mostram. Enrustem e esboçam. E há quem confunda sexualidade com um pendor para a comédia. Eu mesmo, por sinal.

Até hoje, achava que tinha que me calar. "Já passou, chega de drama." Mas é uma voz indelével, ela quer atenção. Não se trata de afronta ou bater panelas em protesto. Sou mais assertivo. Não viro as costas e me retiro. Permaneço firme, brincando na água como se não pudesse me machucar. Tobogã, escorregador, um tombo. Fadado à repetição, o que desenrolo em mim? Está longe de ser agradável, mas não pesa mais. É como a água: abriga e pode afogar. Eu mergulho, vou de bico (de ponta - do iceberg) no escorregador. Afogo meus demônios. Aprecio a árvore genealógica de um mal já enraizado, fadado a ir pelo ralo enquanto a gente sobe e desce. Tenho anjos - reais e sobrenaturais - ao meu lado (e na minha garupa).



O meu silêncio também tinha uma cerca de preconceito. Aquele proveniente de mim mesmo, espirala e explode na minha cara sem piedade. Lembro de caminhar com meu primo e sua ex-namorada e conversar sobre os motivos de tanta chacota - eu não entendia! Como poderia entender? Hoje eu a reencontro e a situação mudou. E não se alterou. Eu maior, eu menor. Tenho 27, ela me dá 20.

Também achava pura ilusão esta a de fazer os outros rirem. Como se camuflasse a minha tristeza encapsulada e engolida repetidas vezes. Uma honra, independentemente de qualquer coisa, ainda ter a capacidade de estampar sorrisos nos rostos das pessoas. É a minha melancolia restaurada, uma obra de arte. Eu abraço essa tristeza, eu a honro e fico lisonjeado com sua presença. Sem ela, eu não saberia medir a minha inclusão ou falta de, muito menos mensurar o quanto aprendi e o quanto ainda preciso aprender.

Não há conexão sem exposição.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Shake it out

A gente perde a fome. "A gente" quem? Eu, você. A gente sente o sangue subir, espalhando-se quente pelo pescoço e face. A gente sente o toque da frustração pulsar enquanto busca dissociação constante. Por sugestão da autora Natalie Trutmann ao final de um dos capítulos de seu (instigante) livro "Manual para sonhadores", assisti a palestra "Seu gênio criativo elusivo", da escritora Elizabeth Gilbert (Comprometida, Comer, Rezar, Amar). Se escrever é algo supostamente natural para mim desde muito tempo, por que as pausas dramáticas?

Gilbert busca separar a criatividade do artista, de forma que a sua obra não gere tanta angústia. Para isso, estrutura o relato a partir da atribuição da criatividade a um espírito divino, daemons para os gregos, gênio para os romanos. A ideia, basicamente, é a seguinte: se algo produzido por você é brilhante, o crédito não é só seu, é compartilhado com o gênio, aniquilando o narcisismo. Por outro lado, ao encarar um resultado negativo, a culpa deixa de existir. Sim, o gênio entra nessa também!

Os lampejos de Deus só ocorrem quando da união entre as forças - humana e divina - em prol da arte. Quanto a mim? Não posso culpar uma suposta falta de presença do meu espírito divino da criatividade. Eu preciso começar a dar as caras para a magia acontecer (ou não).

Here we go again.


quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Construção civil

Impedimento

E haveria um tijolinho
Pequeno e quebrado
Já dominado pelo diminutivo
Que seria retirado
Do muro do meu reino

De forma que o treino
Extenso e aplicado
Já absolvido e expansivo
Seria demolido
Da área do meu castelinho

Eu seria observado
Repetidas vezes
Porque os olhos
Buscariam por mim
Novamente
Num vai e vem
De atos e ensaios

domingo, 20 de outubro de 2013

O menino que enviava bilhetes

Com um exemplar do livro "Cidades de Papel" nas mãos, decidiu não tomar mais atitude. Uma amiga havia dito recentemente: "Você tem que receber bilhetes, não enviar". Até concordava. Havia uma força motriz, no entanto, impelindo-o a assumir as rédeas como num ato contínuo (ou falho). Carência. Depois, nem sabia, era um líder nato, ainda que essa natureza servisse para puxar o próprio tapete o tempo inteiro. Decidiu não mandar mais nada. Deixaria tudo nas mãos do destino ("deixo de ser 'gente que faz'?", ponderou). Isso tudo até avistar, na diagonal, mais alguém para receber seu nome e número de telefone, além de dois pontos e fecha parênteses para a devida chave de ouro.



quinta-feira, 17 de outubro de 2013

17 anos e fugiu de casa

Nicho de mercado

Não fui convidado para jogar este jogo
Ninguém foi…
Embora, até ontem, fosse acaso do destino
Hoje ficou iluminado pela luz no tabuleiro
Na semana passada substituí o R por outro R
Enfeitei seu jardim
Entrei na sua casa
E dormi na sua cama
Ao tentar pavimentar tais labirintos
Retirando das minhas entranhas
Tudo que pudesse entreter
Fui e voltei no tempo
Sempre programado para não falar mais
E eu ouvia…
Eloquente e espirituoso
O que me agradava ouvir
Na marcação dos “x” as datas nas quais eu veria
Num conjunto multifacetado onde você perguntava
“Quando vou te beijar de novo?”
Como se eu fosse um ídolo…

Eu não sou seu amigo

Vocês se acertaram. Que bom! Para falar a verdade, não sei onde anda minha cabeça. Mentira. Quis falar difícil, esmigalhar as palavras. Pena, elas voaram, subiram nas minhas asas e pegaram fogo quando nos aproximamos do céu. Lembro quando a gente comeu bergamota e ficou lagarteando sob a luz do sol, supondo inocentemente que tudo era doce como a fruta. Mordi um gomo podre, outro seco. Tinha certa desconfiança a contar da casca, levemente machucada, como se tivesse sido deliberadamente jogada no chão. Lembro quando passou a mão pelo meu rosto. Sutil. E eu explodi em fogos de artifício arteriais naquele momento, ciente da plenitude do estopim.


quinta-feira, 26 de setembro de 2013

A cura

Às vezes, tenho uma ideia enquanto estou comendo, como foi o caso hoje. Ela rapidamente busca dar as mãos para algo anterior, uma faísca, uma vontade ainda não concebida. Sempre considerei que, para escrever, mantendo a polaridade entre privacidade e segredo à vista, é preciso expor a alma, nem que seja uma única Horcrux/âncora/crença, num casamento entre mundo mágico e a magia da PNL.

A despeito do inferno astral logo ali na esquina, ouso prever de forma auspiciosa. Atrevo-me a afirmar que há pedaços de pão polpudos marcando a volta. E muito amor. Ainda que dentro de casa a aplicação de qualquer equação seja complicada, a tentativa permanece. "Eu não sou importante", pensei. Aí ouvi muitas risadas, feedbacks incrivelmente positivos e mudei de ideia (depois de respirar bastante). Na onda do discurso do presidente Mujica, concluí: o amor é sempre a melhor resposta. O primeiro lugar no pódio. A maior aventura. A melhor rima. A cura.



Você não precisa fazer sempre o melhor, mas deve buscá-lo. Não precisa redigir o melhor texto, pois o preciosismo, embora importante para o entalhe, não favorece a criatividade. Se você entra na dança esperando uma epifania, às vezes pode ser só uma brisa e representar muito mais, porque é na simplicidade que a vida caminha. Tão simples quanto ser hipnotizado pelo cambalear bruxuleante de uma vela.

Não importa o trajeto, a ponte aérea, a vontade que surgiu de ficar. O importante é ir em frente de forma flexível, pois as possibilidades só desabrocham quando regada a flor da mudança. Deixe-se enfeitiçar pelos próprios desejos, dê a mão para os que te cercam e pise com firmeza. Pode ser um novo emprego, um novo amor, um novo (re)curso. Balela? Auto-ajuda? O nome pode ser o que você quiser. Eu tô chamando de gostosura.

Vou ficar

Família ê, família Alpha

Sou acometido por uma força estranha quando o dia de retornar ao RJ se aproxima. Como escritor, ou simplesmente alguém que escreve, caso soe muito pretensioso o título, a ideia é convidá-lo a se juntar a mim numa retrospectiva. Não, a prerrogativa não é a de informar, mas sim gerar um espelho (na humilde expectativa de interação e que sirva de algum auxílio/consolo/reflexão). Por isso, peço que hoje você finja (ou não) que eu sou seu colunista favorito (oremos): Martha Medeiros, Lya Luft, Diogo Mainardi, Max Gehringer, Márcia Tiburi, enfim.

Há um efeito sanfona em cada visita ao Sul. Desta vez, a expansão do membro cardíaco foi maior, até pela quantidade de quilômetros percorridos, cidades visitadas e tempo da estadia. Volto com caspa (água quente para espantar o frio); alguns livros; uma tatuagem nova; roupas novas; mais um afilhado para mimar e amar, além do já por mim amado e mimado; muitos sobrinhos (na verdade primos, but who cares?); um machucado no pé esquerdo (tenho pânico quando sinto coceira nos pés, já que tirar o couro é a alternativa que resta para cessar a agonia). Foi uma viagem para a família (ainda que eu tivesse planos maléficos de ter uma trip-com-romance-cor-de-rosa). Inclua aí os amigos, aqueles que a gente escolhe, de acordo com o clichê, para fazer parte da nossa vida, mesmo que o laço não seja de sangue. Primos, primas. Tios, tias. Amigos, amigas. Comadre. Compadre. Irmã. Pai e mãe.

Ah, se todos soubessem o tamanho da minha gratidão e da saudade-vontade-de-levá-los-comigo. Sempre ao meu lado, na torcida, não importa para qual fim, pois sabem que eu não desisto. Verdade seja dita: é impossível rever todo mundo. Fica uma dívida, uma conta no bar para acertar na próxima, a antecipação do reencontro, a cobrança tolerável. Na hipótese da concretização do encontro, é preciso focar na qualidade, porque quantidade realmente é outro departamento difícil de encaixar no ISO da amizade.

Eu volto cheio de gás, pronto para dar o meu melhor. Eu volto turbinado com lembranças doces a elevar minha glicose. Eu volto querendo ficar, sim, pois meu coração está com vocês, mas ciente de que a vida é assim, que aqui é a minha zona de conforto (e nela não cabe mais permanecer). Mas posso adiar o retorno: Rio, te vejo dia só dia 10.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Mr. & Mr.

Espiral de amor

Vendou os olhos do namorado com uma faixa preta de algodão. Beijou-lhe os lábios levemente, um selinho para estampar aquele fragmento de tempo. Sem enxergar, o outro sorria, intrigado com o gesto inesperado, ainda que conhecesse a vertente passional do ser que amava com tamanho furor. Percebeu que, em breve, completariam três anos juntos, o que atenuou o fator surpresa sem diminuir a alegria do gesto. Para ambos, não havia nada melhor do que o simples fato de compartilharem a vida como um todo, uma profusão de amor que os instigava profundamente.


Divagando entre lembranças e a formação de mais uma, sentiu as mãos do amado repousarem sobre suas coxas. Havia algo em sua mão direita. "Uma caixa", pensou. Pequena. Quadrada. Óbvia, porém extasiante. Sentiu o coração bombear o sangue com mais intensidade para acompanhar o ritmo ascendente que retumbava ao redor de ambos. Ouviu um som metálico próximo, uma garrafa em pleno amasso com um balde de gelo, assim como o tilintar das taças de cristal. Um clique leve denunciou a abertura do avesso da caixa de Pandora. Sua mão estava no ar, não precisava dizer sim, sua linguagem corporal o denunciava como um flagrante policial.

Com os olhos desvendados, retribuiu todo o carinho colocando a aliança na mão do noivo e tirando-o para dançar, ainda que o único som fosse o tambor dos corações e o arfar da respiração apaixonada daqueles seres entrelaçados por um novo paradigma dos tempos modernos.

S2


Texto inspirado no mais novo projeto das amigas Laura Fraga e Fernanda Prestes, o Mr. & Mr.. Confere a iniciativa no Facebook e no site da dupla!

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Hipnose ou O brilho da agulha

Voos (retirada desnecessária do acento circunflexo – tchau, reforma ortográfica!)

Exatamente meia-noite e vinte quando ele olhou no relógio. Deveria estar dormindo, mas preferiu apanhar o objeto em cima da mesa do computador e verificar qual a probabilidade de cansaço para o dia seguinte. Era tarde, precisava trabalhar na manhã daquele dia que se iniciara há poucos minutos.

Comparado com o tempo do mundo, aqueles poucos minutos representados no celular em cima da mesa do computador estavam passando lado a lado com uma analogia. Aquela do hospital, na qual – ele lembra bem – pegava uma agulha e injetava em si mesmo tudo que julgava ter aprendido da última vez em que estivera naquela situação (ao contrário).


Esse espasmo repetido causado pela agulha que ele injetou em si mesmo poderia ser resolvido com uma cura supostamente simples. Algo antigo: magia resultante da união entre água, fogo e vento. E ele podia sentir aquela cura tão desejada bem próxima. O toque leve, mas arrebatador; os pêlos da nuca levantados em segundos; o velho e amado frio na barriga. Um beijo para imergir, queimar e voar – nada mais.

Ao tomar consciência de que o relógio em cima do computador parecia estar descompassado, que a agulha estava quebrada e que beijava o travesseiro, sentou-se na cama. Memórias brotando em cada poro e o segredo para tal sensação continuava intacto.

Ainda não era a hora…

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Vidas cruzadas

Navalha na carne
A Tpm de agosto desnuda e dilacera o discurso vazio das revistas femininas, e abre um leque de reflexões para outros públicos envolvidos no mesmo jogo de histórias da Carochinha

Muitos de vocês já devem ter visto a atriz Alice Braga na capa da edição de agosto da revista Tpm. As mais desatualizadas possivelmente estranharam a abordagem das chamadas e glamourização da foto e, portanto, podem ter perdido o tesão pela compra. No entanto, é apenas uma dobradinha para um problema maior: os conflitos enfrentados pelas mulheres no que concerne a estética, devido principalmente às imposições maciças da mídia com o uso desenfreado de alterações/retoques e, em alguns casos, verdadeiras mutações. A leitura da reportagem, naturalmente focada no segmento feminino, possibilita a observação de questões que se fazem presentes no mundo gay, embora seja plausível a extensão à cultura geral das publicações que nos rodeiam.


Enquanto as mulheres veem saltar aos olhos produtos perfeitos que as deixam perfeitas como a mulher perfeita que usa tais artifícios, o mundo gay constitui-se dessa pressuposta perfeição na esfera do criar clima. Para mascarar o preconceito, veste-se a roupa da academia, do carro importado, festas incessantes, numa carcaça que não parece envelhecer ou sofrer os danos do excesso. Não chegou um homossexual, chegou um carro, uma roupa, uma justificativa para não tocar no assunto. Essas questões, profundas e doloridas, já foram cutucadas anteriormente, e incrivelmente bem, pelo jornalista Fernando Barros, num artigo publicado no Observatório da Imprensa em 2011, intitulado "Que gay é esse". Trata exatamente desse personagem de revista que não existe - e não por acaso é fabricado no mesmo conglomerado da boneca que estampa os anúncios e capas de revistas preferidas das mulheres.

Com os exemplos instaurados por todos os lados, seja na revista ou no seu reflexo exterior, através dos leitores, não cabe o julgamento. Em nenhuma das abordagens é possível condenar quem se deixa levar por tais encantos (quem nunca?) e, ao não atingir o inatingível patamar oferecido, entra numa espiral de vergonha que leva à desconstrução do ser como um todo. Sem o julgamento, não resta dúvida de que é preciso, sim, sangrar as mazelas do corpo até o fim, fazer a autópsia e permitir que ele seja levado embora ou cremado. Não há nada de mortificante ou trágico, trata-se apenas de algo que simplesmente nunca existiu. E é melhor que seja assim.

domingo, 4 de agosto de 2013

P de 5

Faço o tipo sonhador. Algumas pessoas próximas dizem que, por tendência, preciso de alguém que, como se diz?, coloque meus pés no chão. Well, sou um escorpião com asas. Acredito em destino. E gosto de interferir. Para olhar para o céu, independente do hemisfério, sempre é preciso olhar para cima. Até onde posso ver no momento, existe uma mão completa de opções perante os meus olhos e sonhos. Algumas delas cabem em cálculos matemáticos – numa conta que não me recordo mais como fazer. Seria P de 5?

Mesmo com os devidos cruzamentos, a pergunta que se funde ao símbolo do infinito é simples na sua construção, mas extremamente complexa quando clama por resultado. Afinal de contas, não sou exato. O sonho ou o coração? Quando um sentimento diferente bate à porta (e não estou aqui falando sobre amor diretamente, talvez porque ainda não tenha feito a minha escolha), às vezes é preciso fugir? Abrir a porta apenas para batê-la na face do quase-amor? Ou é prudente convidar para entrar, servir um café, adoçar com carinho e convidar para participar do sonho? Quando foi que o sonho entrou? Ele já estava lá.

Num universo paralelo, na tentativa obviamente frustrada de fugir da realidade, certamente já fiz uma escolha, o que significa que, neste plano, ela ocorre ao contrário. Os planos podem ser equalizados? Unidos numa frequência para retomar a batida que pulsa, ao mesmo tempo, sonho e coração?

Vou pegar algo para beber*.

É assustador brincar com a nossa própria zona de conforto. A brincadeira, geralmente iniciada com uma sessão de esconde esconde, é necessária, eu sei, pois ativa sistemas de mudança até então intactos até mesmo pela brisa mais fraca de transformação. Agora que os ventos sopram repentinamente com o anúncio de 120 possibilidades, onde a areia assenta e forma um castelo?

O peixe?
O Rio?
Vem comigo?

*Chá gelado.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Gotas de pulsação

11/3/2011
Nas entrelinhas
02/08/2013

De tempos em tempos (apenas para gerar um mistério acerca do fator impreciso da passagem temporal e suas representações), uma força brota de mim, embora pareça sugerir que me domina de fora para dentro. Geralmente chega sem avisar, apenas arrebenta a porta e senta ao meu lado, como se nos conhecêssemos há anos. Admito que sim, somos conhecidos de longa data, sem dúvida.

O que me incomoda (instiga?) é que, em cada reencontro, a roupagem dessa força é diferente, evoluída e proporcionalmente mais tensa e, sim, intensa. Meu instinto natural é correr, não para fugir, mas para fazer parte dessa essência que emana e vibra em todas as direções sem se quebrar, dividir ou diluir.

É um desejo profundo por chuva somado ao correr na precipitação, cantar, dançar, pular, gritar, exorcizar, amar e verbalizar na água que corre verticalmente a expressão mais condizente com a enxurrada de emoções que se misturam; é olhar pela janela e desejar com tanto fervor que as esferas que se fazem necessárias ajustar, simplesmente acordem alinhadas...

Hoje isso ocorreu novamente e me trouxe para uma reflexão, lindamente vestida de sentimentos, mas que, na verdade, é apenas a moradia de um animal profundamente humano, rumo ao ápice da solidão.

"É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir"

Trecho de Tocando em frente (Almir Sater e Renato Teixeira)

quarta-feira, 31 de julho de 2013

A falha no plano

"I just don't know what to do with myself..."

Deixe no meio da rua
No meio da lista
No meio da régua
Sem medida

Deixe no meio
Fio
Feito
Falso
Passo

Rumo ao meio
Do nada
Dilema

terça-feira, 30 de julho de 2013

Serendipity

Do inferno astral 2012

Há momentos em que não sei para onde tudo vai. Pelo ralo? Contemplo mil pensamentos, não chego a conclusão alguma. Quero ler, ir até a piscina. Dançar, mudar de emprego, comprar roupas, utensílios domésticos e montar um quebra-cabeça. Lavar roupa, fazer comida, arrumar a casa (mesmo que ainda não seja a minha), andar de bicicleta, tomar um sorvete, beber até cair, namorar, passar café e enfeitar um pão francês quentinho com manteiga. O intuito não é fazer sentido, nem sequer ter ordem. Uma lógica. Cantar a plenos pulmões, tomar vitamina C, colágeno. Fazer um check-up, escrever um livro, ler mais, fazer um curso. Ganhar dinheiro, ficar em silêncio, alugar um apartamento (pode ser apertado), assistir seriados, ir ao cinema, descobrir um nicho e colher os frutos, expandir meu vocabulário, dar meu telefone, algo radical, algo proibido, de algum jeito, em qualquer lugar.

Acréscimos, continuação, devaneios pré-quase-aniversário etc.:

Quero...

...conseguir ler no ônibus, ser publicado, gravar um CD, fazer um show, andar completamente desligado do mundo externo, aliar faturamento ao labor prazeroso e instigante, pular corda. Conhecer alguém e não me afobar. Ter primeiro, segundo, terceiro encontro e tempo para pensar. Construir. Plantar, colher. Falar com pessoas distantes, virar para todos, inclusive para o espelho, perguntar "como vai você?" e realmente me interessar pela resposta. Cavar mais fundo, aprender francês, visitar Porto Alegre, conhecer locais recônditos e lugares turísticos. Planejar meu aniversário, comemorar, escrever no compasso do insight/pensamento, fazer novas tatuagens, registrar (mais) momentos, não ficar paralisado perante qualquer tipo de dualidade, pular de asa delta. Honrar meu(s) talento(s), adornar meus defeitos e não parar de almejar - até para garantir mais disso tudo.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

O quarto andar

Capítulo 2 - Eu caí do céu, você...

Encontraram-se na mesma noite. Rafael esperou Júnior perto da escada rolante da sorte, lá no andar correspondente ao trevo de quatro folhas. A tensão entre ambos, tão poderosa, formando espirais entre os olhares, inclusive os desviados para quebrar a sinergia estabelecida com tamanha brutalidade. Toda obra em uníssono com a mania junioresca de ter pressa. "Dane-se", pensou.

- A gente podia tomar uma ceva, que tal? - indagou Rafael.
- Eu topo. - disse Júnior.

Na noite carioca, o calor brotando das ruas, a carência exposta sob pouca roupa como argumento de independência, a pele levemente suada, mas não suor de ônibus lotado, mas sim aquele leve desprendimento de energia a fluir dos poros. A atmosfera é intoxicante. Os adjetivos espocam na cabeça de Júnior, tanto para qualificar a oportunidade como para idealizar aquele momento dividido com seu anjo.

- A melhor sudorese é a compartilhada. - comenta Júnior, afoito demais para conter seu entusiasmo.

Rafael sorri, satisfeito consigo mesmo, detentor de todos os prêmios de conquista, mas um anarquista quando o assunto é intimidade. Sorri porque não decodificou a mensagem, exceto no âmbito carnal. O sorriso é a máscara sedutora de alguém que não conhece companhia alheia para além de seus próprios desejos. Cresceu sozinho sob os olhos desatentos dos pais, atualmente separados. Da sua caixa de ferramentas, negação. É mais fácil estar ali bebericando cerveja e fisgando mais um. O resto vem depois.

Continua...

Não leu? Quer recapitular? O primeiro capítulo tá aqui!

sexta-feira, 26 de julho de 2013

A sucessora

Meu nome é Valdyrene. Com "y" mesmo, invenção da minha mãe, mas eu gosto, até que gosto. Ficou mais difícil aprender a escrever e soletrar, mas eu gosto, sim. Nasci preta, pobre, mas não espere pelo "puta" porque seria muita sacanagem. Na real é uma puta duma sacanagem, porque é a realidade. Até tive outra profissão, outra opção. Era cantora de karaokê nas comunidades aqui do Rio de Janeiro. Todo final de semana uma turnê pelos morros pra fazer a alegria do povo. O problema é que nunca me senti reconhecida. Neguinho não queria pagar, só sabiam de ficar pedindo entrada VIP. Palhaçada! Fora a inveja das Lucycreydes, Marinetes e Pauletes. Não me bastou uma adolescência sofrida, calçando 39, estudante bolsista, uma vara de tão magra, sem bunda, sem peito, sem nada? E, além de tudo, crente!

Aí resolvi mudar, fazer diferente, entende? Até canto pros clientes, eles gostam. É um lance sensual, saca? Agora tô mais ajeitadinha, peito cresceu, dou uma empinada com a bunda... ah, cansei de ser a Valdyrene cantora e decidi virar Valdyrene Surfistinha, só pra entrar na onda da colega que ficou famosa, quem sabe ser a próxima a escrever um livro ou até gravar um pornozão das Brasileirinhas. A gente tem em comum uma coisa muito básica, que é o lance do cara tirar a gente pra psicóloga. Pra esses eu canto, que assim largam do meu pé.

Beijos, vou atender!
Até a próxima.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Rumour has it

Prazer, eu sou o Jeferson!

Já me chamaram de tudo
Bicha, veado e derivados
Ou até boiola, Bambi, o pobre cervo – estranho

Serviu para cicatrizes, não nego

Marcas profundas de incertezas
No caminho das diferenças
O papel de bode expiatório

Também já chamaram de lindo, TOP

Gostoso, gigante, um pedaço de mau caminho
E algumas mães e avós por aí dizem: que desperdício!

Engraçado, hilário, inteligente

Bacana, Zé Mané, gente boa
Misterioso, escrachado, bonitinho

E eu me perco, oscilo, grito

Pernalonga, Angelina, exótico
Bocão Royal, príncipe
Ou mais um na multidão

(certamente incompleto)


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O texto abaixo é da Lena Gino. 

Me chame do que quiser

Se parece ingênuo que eu acredite nas pessoas, que me chamem de tola.
Se parece impossível que eu queira ir onde ninguém conseguiu chegar, que me chamem de pretensiosa.
Se parece precipitado que eu me apaixone no primeiro momento, que me chamem de inconsequente.

Se parece imprudente que eu me arrisque num desafio, que me chamem de imatura.
Se parece inaceitável que eu mude de opinião, que me chamem de incoerente.
Se parece ousado que eu queira o prazer todos os dias, que me chamem de abusada.

Se parece insano que eu continue sonhando, que me chamem de louca.
Só não me chamem de medrosa ou de injusta. porque eu vou à luta com muita garra e muita vontade de acertar.
E foi lutando que eu perdi o medo de ser ridícula. de ser enganada, de ser mal entendida.
Perdi, na verdade, o medo de ser feliz.

Não me incomoda se as pessoas me veem de forma equivocada.
O importante mesmo é como eu me vejo…
Sem cobrança. Sem culpa. Sem arrependimento.
A gente perde muito tempo tentando agradar aos outros. Tentando ser o que esperam de nós.
Eu sou o que sou e não peço desculpas por isso.

No meu caminho até aqui, posso não ter agradado a todo mundo, mas tomei muito cuidado para não pisar em ninguém.
Sendo assim, me chame do que quiser, eu não ligo…

Porque eu só atendo mesmo quando chamam pelo meu nome, que eu tenho o maior orgulho de carregar.

domingo, 21 de julho de 2013

Quem nunca?

Repetição de padrão negativo de comportamento

Diga:
“Não vou, não posso…”

Mas apareça do nada

Para que eu exclame:
“Que surpresa, nossa!”

(De um lado: “sim, preciso de ti” / De outro: “sim, mantém-se o controle”)

Eu peço:
“Por favor, fica”

Mas vais sem pestanejar

Para que eu perceba:
“Sem sermos os mesmos, ainda somos os mesmos”

(De um lado: “a história se repete, é sempre assim” / De outro: “se eu ficar, vai parecer que pode me controlar”)

Eu não me deixaria levar por ressentimento ou culpa porque a análise permanece a mesma: um padrão interno de comportamento manifestado no exterior tende a se chocar com o sentimento, também interno e manifestado no exterior. E eu imagino a confusão que tais manifestações – repetição e sentimento – causam sem parar.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Mais vale um na mão...

Dá um teco?

Ainda não eram um casal, mas saíram para tomar um sorvete juntos. Escolheram um MC qualquer de Copacabana. Leonardo resolveu dar um pulo no banheiro para tirar água do joelho e Luciano permaneceu na fila para aguardar pelo atendimento. Em transe de sabores, sem saber qual sobremesa pedir, Luciano foi despertado por uma briga que invadiu o restaurante. Dois moleques gritavam da rua para um terceiro, já resguardado pela equipe.

Com a balbúrdia pseudo-controlada, Leonardo de volta e decidido a ficar numa casquinha básica, enquanto Luciano apostava em cartas maiores, um Top Sundae de caramelo. Ao perceber a discrepância, Leonardo brincou:

- Poxa, eu com uma casquinha e você com um baita sundae. Sacanagem!
- Mas você pediu, eu...
- Tô brincando!

Saíram do restaurante. Quase uma quadra depois, um grupo com figuras duvidosas, cerca de nove "parcerias", surge. Um deles solicita "um pouco" do tal super mega blaster hiper ultra sundae de Luciano, que tenta fazer a Egípcia. O solicitante, ao emparelhar, simplesmente pega o sorvete de um frustrado Lu, enquanto um feliz Léo segue lambendo com prazer sexual a sua humilde casquinha de creme.